segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Minha opinião sobre retro FPGA

Já faz um tempo que tenho refletido sobre todo o movimento de recriar computadores clássicos com tecnologia moderna. O que me motivou a escrever a respeito foi este artigo.

Fonte: Wikipédia

Fiquei sabendo que o Z80 implementado no ZX Spectrum Next não é 100% fiel à CPU da Zilog. Foram implementadas algumas instruções extras nos opcodes não aproveitadas no Z80 original. Confesso que essa descoberta me incomodou.

Antes de prosseguir, quero deixar bem claro que não estou desaprovando o projeto do Next, nem criticando os elaboradores ou fãs. Na minha visão, toda iniciativa dentro da retrocomputação é válida e, neste caso, permite o acesso para quem não consegue adquirir o hardware original da época. Neste artigo, estou expressando as minhas percepções e reflexões a respeito, isto é, uma perspectiva individual minha.

De uma certa forma eu estive envolvido no que se tornou o Next, quando a ULA do TK90X foi clonada em CPLD. Depois a coisa foi seguindo em frente e eu acabei não acompanhando mais. A impressão que tinha ficado para mim era que o Next seria uma ideia de um possível sucessor do ZX Spectrum que não o decepcionante Sinclair QL. Uma iniciativa nesse sentido é o ULAplus que talvez não fosse economicamente viável, mas tecnicamente era realizável na época. Teve ainda o Sam Coupé, uma excelente máquina que poderia ser considerada o sucessor do Spectrum.

O ponto é que nunca existiu um Z80 implementando as instruções extras presentes no FPGA do Next. Portanto não haveria condições de, na época, fazer um hardware real. Aliás, nem hoje, exceto em FPGA ou emulação. Isso é um pecado? Não, é totalmente válido. Só que é uma abordagem da qual não tenho interesse nenhum. Na minha concepção, retrocomputação tem sentido se: 1) ser agradável ou divertido; ou 2) ser historicamente verossímil. 

Começando pelo segundo ponto, com a tecnologia do Séc. XXI, pode-se fazer qualquer coisa ordens de grandeza mais complexa e eficiente do que em 1980-1990. Com as possibilidades atuais, não é difícil de se chegar a um hardware totalmente alienígena em relação à época histórica. Portanto seria um projeto moderno que fugiria, a rigor, da definição de retrocomputação. Apesar do aspecto histórico ter sua importância, o primeiro ponto abre uma brecha para desenvolver sistemas inviáveis de existirem no passado.

Volto aqui então no quesito de ser agradável ou divertido. A retrocomputação não é apenas História, Ciência Exata ou Tecnologia. Ela existe porque há pessoas motivadas em investir seu tempo e conhecimento. Em outras palavras, a retrocomputação é um passatempo, que dever ser agradável e divertido. Se alguém acha interessante desenvolver uma implementação física ou virtual de um Z80 com clock de 1 GHz, por que não? Desde que haja motivação para isso, é uma iniciativa totalmente válida!

Volto então aqui ao início da conversa. Acredito que há uma comunidade que gosta muito do Next e que tem razões para isso. Mexer com hardware antigo tem seus pontos negativos dada a sua fragilidade, requer certas habilidades e pode dar muito trabalho e  frustração. Ter portanto um Spectrum feito com tecnologia moderna, mais robusto e com materiais de melhor qualidade é um sonho realizado para muitos. Além disso, se tiver algumas melhorias como, por exemplo, modos de vídeo melhores, poderia motivar os programadores a criarem jogos e demos impossíveis na máquina original. Tudo isso é extremamente válido, não sou contra.

Entretanto, o Next não me atrai, por uma série de razões. De início, eu possuo os equipamentos da época, portanto não necessito de uma recriação. Se o uso do hardware original não for cômodo, disponível ou adequado, posso lançar mão de um emulador em computador moderno. Por fim, não tenho interesse em nenhuma das melhorias implementadas modernamente, pois foge da nostalgia de sentir as limitações da antiga tecnologia. Um computador de mesa, notebook ou mesmo um telefone celular moderno tem capacidade quase infinitamente maior que o Spectrum e usamos cotidianamente. Não vejo portanto muita graça em introduzir recursos extras numa recriação e fazer um jogo ou demo "melhor" (seja lá o que significa isso) do que seria feito no equipamento original.

De qualquer forma, isso é apenas uma opinião minha, válida para mim. Portanto, se você ama o Next, tem toda a razão. O importante é se divertir com o hobby.

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